Eu
acordei naquele dia sem o famoso sorriso no rosto. Aquele dos muitos likes, elogios repetidos, previstos,
esperados. Não teve selfie, não teve look do dia, nem piscina, nem sol.
Estava só.
Forçadamente,
encarei minha família nos afazeres diários, num semblante que refletia cansaço
e rotina. Isso não dá para postar... Ou dá? Talvez um boomerang da mãe temperando o frango de todo dia. Uma foto do sol
da manhã – é, basta achar o ângulo! ...Não.
Minha
casa sem cor não tinha parede bonita. Também não pega bem mostrar as apostilas,
não combina com o resto do meu feed.
Minhas amigas já postaram e não deu em nada. Não vale a pena.
Papai
costumava dizer que gente feliz atrai. E se eu fosse um pouco feliz, nem que
fosse só um segundinho para a foto? Talvez eu atraísse amigos. Eu quero amigos
por perto! Meu pai estava certo, já que os meninos que eu mais queria namorar
sempre tinham o que postar. Pensando bem, sou mesmo apaixonada por aqueles
sorrisos diários. Eles são muito felizes, dá pra ver nas fotos, sério! Mas eles
nunca vão lembrar que eu existo se eu não tiver uma foto todo dia. Qualquer
coisa! Basta ter. Pensa!
Não
consegui evitar aquela manhã não publicável. O café não foi café – e as pessoas
amam café! Foi uma bananada sem graça com aveia. E depois nada. Meu cachorro
não bagunçou a casa e eu não saí dos pijamas, apesar de querer tanto.
Abria
o Whatsapp de 5 em 5 minutos à espera
de algum convite para aquele sábado. Mas ninguém falou nada. Eu estava
invisível e esquecida. Definitivamente, eu precisava postar alguma coisa nos stories pro povo lembrar de mim. Feliz
eu não estava, mas talvez eu pudesse rascunhar um sorriso convincente.
Meu
coração, por impulso, me dizia para tirar uma foto com aquela cara de tédio (aquela!) e escrever “alguém afim de sair
hoje a noite?”. Mas aí todo mundo saberia que eu não tinha nada para fazer.
Estaria admitindo que não tinha companhia nenhuma... Isso também não pode.
Foi
ruim demais ficar sozinha. A família não conta nessas horas, ok? Afinal, ninguém pensa na família
para um sábado à noite. Sem condições. Mas quando eu vi, já estava escurecendo
lá fora e meu dia tinha sido em vão. Eu não tinha para quem me arrumar, nem
teria uma noite daquelas que empolgam qualquer um. Droga!
Nem
a Netflix conseguiu ser uma boa
companhia. Foi ficando tarde, o sono chegando... Eu não queria me render. Calma, eu ainda não aproveitei meu sábado!
Mas o sono me venceu.
Quando
eu vi, já era domingo: o dia oficial do descanso com a família. Ufa... Pelo
menos hoje vale postar foto curtindo o cachorro e a família. Vale fazer o boomerang do frango do almoço e tomar
bananada de manhã.
25/03/18
Thaís dê V Lopés