quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Curtir


Que vergonha chorar por algo íntimo!
Deixo que filmes e séries expressem minha dor
Enquanto fico num misto de acolhimento e rejeição,
Sujeito ao quanto me identifico com cada personalidade.

Até sofro e aprendo com eles,
Mas quando me convém, nego qualquer identificação
E saio de casa com meu sorriso forte postado no rosto
Na ânsia de que seja tateado por olhos desatentos.

29/08/18
Thaís dê V Lopés

O dia não publicável


Eu acordei naquele dia sem o famoso sorriso no rosto. Aquele dos muitos likes, elogios repetidos, previstos, esperados. Não teve selfie, não teve look do dia, nem piscina, nem sol. Estava só.
Forçadamente, encarei minha família nos afazeres diários, num semblante que refletia cansaço e rotina. Isso não dá para postar... Ou dá? Talvez um boomerang da mãe temperando o frango de todo dia. Uma foto do sol da manhã – é, basta achar o ângulo! ...Não.
Minha casa sem cor não tinha parede bonita. Também não pega bem mostrar as apostilas, não combina com o resto do meu feed. Minhas amigas já postaram e não deu em nada. Não vale a pena.
Papai costumava dizer que gente feliz atrai. E se eu fosse um pouco feliz, nem que fosse só um segundinho para a foto? Talvez eu atraísse amigos. Eu quero amigos por perto! Meu pai estava certo, já que os meninos que eu mais queria namorar sempre tinham o que postar. Pensando bem, sou mesmo apaixonada por aqueles sorrisos diários. Eles são muito felizes, dá pra ver nas fotos, sério! Mas eles nunca vão lembrar que eu existo se eu não tiver uma foto todo dia. Qualquer coisa! Basta ter. Pensa!
Não consegui evitar aquela manhã não publicável. O café não foi café – e as pessoas amam café! Foi uma bananada sem graça com aveia. E depois nada. Meu cachorro não bagunçou a casa e eu não saí dos pijamas, apesar de querer tanto.
Abria o Whatsapp de 5 em 5 minutos à espera de algum convite para aquele sábado. Mas ninguém falou nada. Eu estava invisível e esquecida. Definitivamente, eu precisava postar alguma coisa nos stories pro povo lembrar de mim. Feliz eu não estava, mas talvez eu pudesse rascunhar um sorriso convincente.
Meu coração, por impulso, me dizia para tirar uma foto com aquela cara de tédio (aquela!) e escrever “alguém afim de sair hoje a noite?”. Mas aí todo mundo saberia que eu não tinha nada para fazer. Estaria admitindo que não tinha companhia nenhuma... Isso também não pode.
Foi ruim demais ficar sozinha. A família não conta nessas horas, ok? Afinal, ninguém pensa na família para um sábado à noite. Sem condições. Mas quando eu vi, já estava escurecendo lá fora e meu dia tinha sido em vão. Eu não tinha para quem me arrumar, nem teria uma noite daquelas que empolgam qualquer um. Droga!
Nem a Netflix conseguiu ser uma boa companhia. Foi ficando tarde, o sono chegando... Eu não queria me render. Calma, eu ainda não aproveitei meu sábado! Mas o sono me venceu.
Quando eu vi, já era domingo: o dia oficial do descanso com a família. Ufa... Pelo menos hoje vale postar foto curtindo o cachorro e a família. Vale fazer o boomerang do frango do almoço e tomar bananada de manhã.

                                                                                                                                                25/03/18
                                                                                                                                      Thaís dê V Lopés

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Dezessei


O andar é pesado.
Num arrastado insistente e constante. Uma luta entre o querer e o querer ainda mais.
Você pensa sobre o pensar... De boca nua e cabelo desalinhado.

Talvez conheça a vida após o “tempo certo” das coisas.

Teu olhar investiga
E a vaidade aparece nas palavras

Gosto do contraste entre os planos sem data
E sua urgência.

Buscando  tradução...
A beleza sempre te encontra.

Teu olhar desafia.
Uma armadilha para os detalhes.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                           22/09/2014

                                                                                                                                       Thaís dê V Lopés