domingo, 6 de dezembro de 2009

Curva

Não sei explicar porque desagüei no rumo de seus julgamentos. Tardios e espantosamente equivocados; gelados. Pobreza no dizer, que sinto refletir nos sentimentos. Seria um olhar torto, desprovido de fontes e transparências. Teu olhar mentiroso para si...

Thaís dê V Lopés

12/10/09

A primeira última vez

Mais uma vez, cá estou a esperar que me visite um consolo confortante. Mais uma vez um borrão desarrumado. A boca latejante de teus beijos. A expressão desfigurada de desvalor. As roupas, que tão bem foram escolhidas, a teu encontro, vítimas. Inutilmente arrancadas de meu corpo morto, encontram-se desmaiadas pelos cantos.

Meu coração chora emocionado e medroso. Do verde ao vermelho que nele se espera encontrar. Vermelho, muitas vezes, precocemente projetado. Cor que meu coração covarde rejeitou, agora chora. É vermelho, não mais por opção, por o ser.

O dia amanhece. Já é manhã e, tola, insisto em assuntos mal resolvidos da guerra passada. Guerra que perco inúmeras vezes, sendo a primeira que me causa alívio. Já não tenho mais chance de sair vitoriosa. Perdi o que não soube ter.

O vento já me prevenia a perda, mas entre quatro encorajadoras paredes, cumpria meu dever de tentar uma vez mais. Escapar de minha série pré-determinada de humilhações e faz-de-conta.

Cá estou, imperfeita, perdida no cenário da perfeição. Nino olhos que choram dor. Tenho sorrido a pesadelos; sonhos só me doem. Fostes meu último sonho lindo que morre prematuro. Projetei em ti o vermelho esperado, história construída. Morro no sorriso que te lanço em recuo. Tua lembrança.

Hoje visto meu personagem definitivo. A beleza de minhas paixões e amores apaixonados não se pode concretizar. Paira no ar, flutuando por corações ouvintes que se limitam a um prazer momentâneo. O que sentem, não os causo com nada mais que palavras molhadas de lágrimas salgadas. Os que lêem não levam o que têm em mãos como definição do que sinto, mas resultado de momento vago de inspiração. Julgam apenas atitudes ainda infantis e frágeis.

Sou mais do que capaz de amar. Feita para esse fim. Amar, apaixonando-me por palavras. As minhas. Mas percebo-me em busca eterna...Tenho significado restrito a mim. Condenada! Tatearei muros onde não há passagem.

Thaís dê V Lopés

07/12/08

A inocência leva a me deixar envolver...

Desenho teus lábios descobrindo-os como a mim mesma. Ao fim, percebo-me pacífica. Deixo-te tornar-me mulher em teus beijos.

O colorido dedico à luz da Lua. Bela, de beleza restrita a olhares amantes.

Tua pele alva revela-me um poético do coração. Poesia explícita ao acaso.

Os olhares me assustam. Infantis, ferem-me. Põem abaixo a atmosfera que compus a mim. Elevam-me a ponto de encontrar-me insegura.

Em descontrole, conformo-me em cair novamente em teu abraço. Reencontro-me a desenhar...

Thaís dê V Lopés

03/10/2008

Acaso

Guardei teu cheiro

Pra lembrar de esquecer

Todo dia

Libertei teu olhar

Pra gozar seu retorno

Tímido

Segurei tuas mãos

Pra que se declarassem

Às minhas

Recusei uma vez teu amor

Sem crer que fosse meu

Por inteiro

Hoje tens meu sorriso

Protagoniza histórias

De amor

Hoje tuas palavras desmascaram

Denunciam livremente

O coração

Hoje sou tua menina

Estrela que aprende

A brilhar

Você, meu eterno,

Meu menino que aprendeu

A amar

Thaís dê V Lopés

16/01/09

Antiga idéia

Antiga a idéia de que o silêncio fala mais do que palavras. Olhei-te por horas-eternidades e insisti involuntariamente no dizer-gritar.

O silêncio-resposta que me deste foi tímido e desajeitado. O abraço-perdão me doeu. O olhar perdeu-se em madeira- azulejo-gesso e não reencontrou o meu... Como me havia permitido prever.

Tua imprevisibilidade é encantadora-cruel, aliada a teu par de enormes portas-míopes me é capaz de matar. Já me prendem e torturam. Já me furtam paz. Já me amam.

13/11/08

Thaís dê V Lopés

Aplausos

Uma vez me dei conta…

Aplausos são causa de iniciativa

Uma... Um alguém

Seria eu, algum dia, essa pessoa?

Imagina! Conte com meu apoio...

Quando já for ele impessoal, desnecessário, encoberto...

Thaís dê V Lopés

(abril de 2009)

Um quarto de mim

O menor espaço. Nos invernos o mais frio. Nos verões, o mais quente. Não se molha com as chuvas. Não abriga mais que um. Dois que são um. Um que valha por dois... Não me sinto só entre suas paredes. Cama, sofá, cama, palco... Travesseiros... Amigos, inimigos, amantes.

Pouco espaço? Um grande teatro, campo de futebol... Um campo. Um quarto.

Um quarto de cama, um quarto de guardados, um quarto de reflexões e, finalmente, o quarto dos quartos: Ela. Reunião do pó de cada dia, ausência de cor, presença marcante. Grande mestra. “Tum, Tum, Tum...”

Reflexões descompassadas de um poema escrito à mesa marcham ao som da bateria. Som do coração, que escuta a si próprio.

Prateleiras de livros mesclados a sonhos, memórias, tempos, passados e projeções futuras. Estantes de música. Agrupadas em CD`s que não se misturam. Não se pode escolher a algum... Não se escolhe.

Retratos, retratos, retratos. Tantos, tão conhecidos... Fazem lembrar do que se diz que viveu, mas é pura crença. Sorrisos tão verdadeiros que se fazem reviver, não em memória, pois não a tenho, mas por si próprios.

Armários tão profundos, que não me recordo a cor do fundo das gavetas. Não imagino quantos vestidos, anos, tristezas, alegrias, lágrimas guardo neles.

A parede roxa, única, é uma colação de idéias, possibilidades. Quadro, retrato, enfeite algum... Parede limpa. Parede só. A mais suja de ilusões, que melhor conhece meus olhos.

A porta dá para um longo e estreito corredor. Tão longo quanto o tempo necessário para me desvencilhar daquelas paredes... Tão estreito quanto meu olhar quando não estou entre elas...

Thaís dê V Lopés

O banco do pátio

Ouvi-o sussurrar teu nome inúmeras vezes. Sentado sempre no mesmo local em horário previsto. Companhia de música que já não agrada. Melodia que imagino e construo a meu gosto, pois não compartilhas. O olhar perdido, temporária e talvez acidentalmente é fisgado por pessoas, cabelos, olhares, conversas e até pensamentos... Os seus.

Parece que não falas por ocupar-se com os demais sentidos. Os que não se explicam. Sei porque não falas, sei sim. É por sentir o peso da curiosidade dos olhares. Se não olhares, perguntas, idéias.

Teu nome me vinha à cabeça a qualquer hora. A qualquer hora ensaiava a mostra que faria de minha coleção de perguntas. Conheço-me pouco, o suficiente. Meus olhos são perigosos traidores. Se te olhassem trair-me-iam... Se nos olhos, teriam o poder de mostrar-lhe um imenso e lindo museu na eternidade do momento. Indigesto e pesado, no mínimo. Não ousaria, se não fosse por aquele acidente. Sei que não te lembras...

Confesso que me entretenho a observar a capacidade que tens de ler pessoas, não por palavras. Ao som da misteriosa trilha sonora de suas manhãs... É leitor de gestos, sorrisos, andares... Interpretando com a certeza de que viverá a graça do erro. Como faço agora.

A verdade é que quando alguém te olha, e abaixas a vista, é um sorriso o que sinto. Quando respondes teu nome, e não o dirias senão em condição de resposta... Quando sussurras... É um grito o que ouço.

Thaís dê V Lopés

04/02/09

Poeta

És mãe de um poeta a quem deu a luz já com morte prevista. Negou-lhe um nome. Mata o próprio filho sem repensar o ato. Justa, preserva teu fruto do pranto consciente, mata-o ainda sem cor. Mata-o sem o poder de reconhecer a si mesmo.

Se lhe parece aterradora a idéia de nascer com vida limitada, destituído do prazer de sonhar a imortalidade... Digo-lhe que não há algo mais maravilhoso. Vivi intensamente, sendo induzido a isso.

Cruel, mata em morte sofrida o que plantou com as próprias mãos. Extingue-lhe a razão, restando apenas o coração, o qual levarás como amuleto... Como previsto.

Peço-lhe apenas que o preserve como farei o absurdo de conservar, com carinho, o vazio. Será minha última lembrança. Será meu consolo, se não me souberes consolar.

Apresente-me, sem formalidade, a um de seus sorrisos... Que seja tão largo quando minha pequenez possa interpretar.

Se não fores mãe, és Deusa. Dá e tira-me vida em divertimento. É algo imutável, a meu ver, e, portanto desprezível.

Amamos-nos de qualquer maneira. Pequeno que sou, amei-te como pude, como soube...

Thaís dê V Lopés 27/09/2008

 
 
 
 
 

Fosco Sorriso

Parece-me que me havia arrumado para aquele momento, no qual feliz ou infelizmente a beleza vinha do extraordinário. As roupas coloridas, a sobreposição de camisas fugia a meu gosto, se é que o conhecia na época. Vestia verde e amarelo, cores que me enjoam de tanto não ver. Os longos cabelos, que hoje já não uso, caíam-me sobre os ombros de criança.

É forçoso notar que não fora aquele um momento espontâneo. Conheço bem as mãos que, cuidadosamente, construíram-no. Artistas que podiam prever o sucesso e eternidade da obra.

A franja usava presa como, diziam, era bonito de ver. Jamais o faria.

Não só me lembro, como vejo minha irmã à minha frente. Pequena, de pele e cabelos mais claros que os meus. Não sei ao certo, mas aposto que sorria antes de posar, que se sentia satisfeita com o sorriso que geraria a brincadeira. A verdade é que eu via a brincadeira como favor... Que muito me custava.

Os lábios de minha irmã foram posicionados de forma que se encostassem nos meus. Cerrava com força meus olhos como que para acelerar o momento ou retardar o retorno a ele. A pequena imitava-me por simples impulso costumeiro.

O flash anunciava o fim do sofrimento. Saí a correr, recordo-me bem.

Aquelas mãos entregaram-me a fotografia tempos depois, não por outro motivo, mas por insistência minha. Será que traio meus ancestrais sentimentos? De certo que sim, pois minha reação foi um sorriso. E repulsa alguma sinto hoje...

Prefiro, porém, ignorar o que essa foto realmente representa. Amor inventado, idealizado. Sonho morno, desejo constante.

Amo minha irmã, esqueço a garotinha.

Thaís dê V Lopés (03/03/09)

Objetivo

Golpes, agora, desajeitados por natureza. Nas tuas pernas, teus braços... Concentração no vazio de meus objetivos, ou, quem sabe, em suas primeiras palavras. Voz rouca que desconheço; agradável porém.

A tua? Bem... tomo como eco de passado distante. Defesa inútil e instintiva. Eficiente de tal forma, que, orgulhosa, acrescento tempero fictício da razão. Contraditório, no mínimo. Visto que tal situação repele pensamentos de qualquer natureza. Da razão em especial.

Não penso em ti, apenas sinto-o. Comigo...

Sentir não requer esforço, e certamente não o dedicaria a ti. Penso até que a ninguém, apenas a mim mesma. E se penso em ti, que seja, então, para uma satisfação momentânea. Para estudo de mim mesma... Fins racionais.

A velocidade com que mato minha sede, reclamo minha dor, anuncio minhas despedidas... Em compasso harmonioso com teus passos e palavras desnecessárias.

Teu sorriso é ignorado por minha atual e pragmática devoção ao tempo. É rebatido com palavras frias, empregadas para afogar, vestir, distrair o que no passado me permitiria reciprocar.

Se me ofereces a mão ao fim de um de teus erros, não me arrancas mais suspiro algum. Talvez de impaciência, intolerância.

Pois bem, um bonito modelo. Coerente manual daquilo que me permito chamar “limpeza do coração”. Ou seria um processo educativo? Aceito que não se muda ou discute a atual e, em todos os casos, eterna situação desse órgão. Pois não passa disso, apesar de uma absurda hierarquia entre seus iguais.

Penso que esse modelo quase que didaticamente nos leva ao domínio da situação amorosa à que me encontro. E não se pode pensar que estive sozinha por algum minuto sequer. A banalidade de meus sintomas chega a irritar-me.

Thaís dê V Lopés (23/03/09)

Belo Espelho

Meu espelho belo. Cópia que me orgulha copiar. Imito quando penso. Copio quando sou. Sou quando vivo. Lembro do que me esqueço, sendo memória de passado. Já vivido ou já sonhado. Raro, nunca imaginado. Mesmo olhar mora à distância. Mesmo sorriso de diferente culpa. Mesma peça em falta se procura. De diferente e distante infância.

Memórias namoram novas experiências. Risos beijam lágrimas. Dor que renasce em passado já chamado futuro. Teu hoje é meu amanhã. Tua dor já me dói. Tomo-a como minha.

Teus sorrisos desenho em meus lábios de mulher. Tua saudade ecoa em meu olhar. E teu amor, que já não guarda em tua mulher... Ainda cabe em minha menina.

Meu mais belo espelho...

Thaís dê V Lopés

19/12/08

― Black!

Era xixi por todo o corredor.

Thaís dê V Lopés

12/07/09

Eu confesso que adorava aquelas músicas, o trensinho e a turma da Mônica com cabeças quadradas na Beira Mar.

Thaís dê V Lopés

12/07/09

Soltei um pum na mesa de jantar. O amigo bonito e careca da mamãe ouviu. Saí correndo e chorando; não consegui mais voltar.

Thaís dê V Lopés

12/07/09

―Vocês precisam de um nome para o bote.

Eles deram o primeiro grito. Definitivo, para meu espanto.

―Tata! Esse será o nome!

―Um, dois, três... Tata!

Thaís dê V Lopés

12/07/09

Minha mania é ver o corpo apenas como cenário das pessoas.

Thaís dê V Lopés

17/08/09

Quem sabe eu te ganhasse com um poema. Os sorrisos são descartáveis... Ou nem isso, simplesmente não funcionam. Mas minha companhia amadurece...

Thaís dê V Lopés

15/08/09

Convite

Dança comigo?

Tua voz e teus olhos

Perguntaram-me certo dia.

Convite com todo o peso

De sonhos de solidão.

Aceitei sem palavra

E Vontade

Ausência encoberta

Por verdadeira disposição

Thaís dê V Lopés

Bolha Azul

Vejo bolhas todos os dias. Acho até que diariamente visito minha cidade dentro de uma delas. O discurso paulistano é típico e convincentemente repetido em cada vazio de novas idéias. Confesso que não me posso excluir desse contexto.

Até que resolvi que dividiria contigo tua bolha. O dividir foi isolar, proteger e blindar-me. Só sentia você, ao som dos tambores estridentes e repetitivos, que agonizavam à normalidade.

Divertíamo-nos com o fogo, até que me fizestes um convite distraído às montanhas. Hesitei, mas você insistiu em provar-me o quanto me divertiria. Distraí-me por um momento com um lindo bosque que avistava ao longe. Dois pequenos morretes entre os quais a solidão era invejável.

Me lembrei de ti. Vi-o correr já distante... O ar era teu único freio. Subia e descia as montanhas, veloz, com ar de vitória e prazer no esforço. Entregava-se vagarosamente ao cansaço, único capaz de lenir-te.

Eu, que de início incomodei-me por me perceber incapaz de contê-lo, distava igualmente de ti, tendo idêntica liberdade. Desatei a correr. Ria em frenesi... O bosque rastejava em minha direção. O ponto mais alto que encontrara... Sentei-me a um dos morretes e puz-me a curtir o movimento da paisagem.

Não mais te avistava, estava só e assustadiça, exatamente como desejei. A neblina me cegava e o calor me derretia num sono profundo. Meus olhos se fecharam como que para não mais abrir.

Sons...Ruídos...Vento...MOVIMENTO! Não estava só! E agora o medo não mais agradava...

Tutum...TuTum...TUTUM! Tornei a ouvir os rígidos tambores, quando involuntariamente, e por culpa tua, sorvia o ar bruta, e não mais lentamente. Não sei ao certo, mas penso que minha única sorte era a cegueira. Senti em teu abraço a pura intenção de proteger-me. Lá ficamos, eu e você... Que a meu pedido descrevia o ambiente ainda cru. Não teria confiado tanto em teus olhos e tuas palavras se meus sentidos não insistissem em confirmá-las a todo instante.

Uma goteira no céu, era o que dizia, uma única goteira no céu. As árvores do bosque em movimento automatizado de episódios tempestuosos. Balançavam na imaginação do vento que as conduzia.

A água da chuva, insistia; da goteira única... Imagina-a fria? Fiz que sim, enquanto entregava-me ao calor inacreditavelmente agradável. Por que não tempestade?

Toquei com a ponta dos dedos teu sorriso, que me anunciou a ilustre imagem da Cachoeira, bela como ela só. Bela, bela, bela... Recusava-se a descrevê-la. Talvez por maldade, mas possivelmente pela dificuldade da tarefa.

Quem já a conhece, posso dizer-lhe agora, revela-se a mais frágil e fácil presa em sua presença. Senti, desesperada, o poder do som da Cachoeira em afrouxar teu abraço. Minha prisão alargava-se...

Ah...Silêncio...Ahhh...SILÊNCIO!

O teu silêncio...Pois a Cachoeira não se calava.

O som impreciso me confundia. Era você que me vinha salvar, ou a Cachoeira engolir? Me salvar...Ou engolir...?

Expulsei uma lágrima dos olhos cegos, que já ouviam tua voz a guiar a maligna. Não ousei levantar-me, pois não cria.

A...Chhh...Ca...Chhh...Chhh...Ahh...choeira...Chhh...Ahhh!

Quente, pesada, lenta, quente, quente... Não posso descrevê-la sem desejá-la. Fiquei imóvel, largada a admirar o sonho das árvores. Um pássaro cruza o céu com lentidão e insegurança. Meu olhar cego o acompanha pelo tato... Como que tomado por descontrole ou determinação, a ave atira-se do alto de um precipício. Meus olhos atrasam-se, imobilizados pela estranheza do ato.

Outro, ou quem sabe o mesmo pássaro cruza meu pedaço de céu. Diverti-me com o poder de prever seu suicídio. Agora é a parte em que ele...Isso! Aguardei o próximo invasor suicida... Que me foi fiel, como todos os outros.

Senti tuas mãos com alívio. Levou-me no colo sem palavra alguma... Não sentíamos falta delas.

“Entregue, sã e salva!”

Eu sorria...

Thaís dê V Lopés

22/11/08

Caminhos

Estava deitada em minha cama, ainda soluçante das recentes gargalhadas, mas já perdida em pensamentos. Quando decidi que repararia em detalhes do quarto. Detalhes que não fossem aquela velha e colorida galinha que, posta como estava em minha frente, era forçosamente notável. Resolvi, usando como critério a aleatoriedade, que começaria por um quadro predominantemente verde ao meu lado. Dirigi o olhar diretamente ao fundo, onde o poderoso azul de um pequeno pedaço de céu me espiava por detrás das montanhas. Nenhum Sol havia ali, mas o verde das plantas e o azul que meus olhos insistiam em encontrar.

Quando se desprenderam daquela peça chamativa e contrastante, deram vez a planos mais próximos. Caminharam por uma pequena casa de cor morta e ar abandonado, que ignorei. Por impulso, resolvi que ignoraria também o quinto, o sexto e o sétimo planos daquela paisagem. Engraçado que, mesmo aparentemente liberto, meu olhar teimava em revisitar aquele pequeno fragmento que gritava...Longe...No último dos planos. Pequeno, agora que torno a aumentar meu campo de visão, por culpa das grandes e vibrantes copas de um par de árvores gêmeas. Corpos secos e magros.

Voltei ao fundo, agora já ciente do ingrediente que faltava naquele cenário. Não via algo mais brilhante ou atrativo que aquele diferente e sempre lembrado fundo. Mais do que isso...Minha mente não mais acompanhava o olhar... Se os olhos viam beleza, era teu cheiro que eu sentia, tua voz e teu rosto. E foi exatamente isso o que vi: teus olhos naquele azul sozinho. Chamavam-me imóveis. Esperavam-me calados. Tornei ao plano das irmãs, mas avancei no recuo até o primeiro deles. O qual eu havia esquecido de conhecer. Foi decepcionante o que vi. Um caminho perfeito que apontava meu desejo. Segui-o vagarosamente e ansiando o fim. Quando parei. Um caminho perfeito que se partia em dois imperfeitos.

Thaís dê V Lopés

25/12/08

Oculto

Hoje você me contou claramente que a mudança havia chegado... E com ela teu sorriso. Preciso descobrir como ganhá-lo de novo. Ganhar não, pois nunca aconteceu. O que tive foi apenas uma mostra de educação, um gesto educado, e quando muito, grato.

Guardo na cabeça, mas o que foi registro, ganha, com segundos, aspecto de sonho e fantasia.

Thaís dê V Lopés

12/02/09

Ordem

Gritos, gritos. Convencidos; não convincentes. Talvez ao restante. Não falo de todos, mas da grande maioria das crianças que me rodeiam. Expressões de injustiça, acusações... Gritos sem significado que mereça consideração. Talvez para riso. Ridículo. Vejo adultos, poucos, permanecerem adultos. Esses são agredidos por palavras infantis em voz de adultos. Os que, por um momento, se permitem fantasiar de crianças. Ou tirar a fantasia que, por pouco, não chegaram a incorporar.

Uma série de mãos erguidas a implorar pela palavra... Um resquício de ordem no recinto.

Mas... Ouço uma voz ao fundo. Com o espanto e momentânea atenção de todos, ganha força. Diz bobagens. Os olhos daquela voz não me enganam; sentiam-se como os de uma multidão.

Um garoto coça, com força, a cabeça. Meninas engrossam ligeiramente a voz. Eu não choro. Não!

Ninguém me olha. Alias, não localizo um olhar sequer que não se encontre a vagar por pensamentos.

Silêncio? É isso mesmo?

Uma última mão tímida, também destituída de minhas esperanças, se sobressai. Ouço minhas palavras escaparem naquela voz. E o choro em meus olhos.

Um grito ao fundo. Menina roendo unhas. Cochicho. Riso; um. Outro grito. Este ao meu lado... Adultos com olhar de aprovação. Aquela voz arrependida... Mais choro.

Thaís dê V Lopés

05/05/09

Primeiro poema

Quando te ouço outras vozes se calam
Se não te vejo, imagino-te ao meu lado
Muitos à amizade o que sinto comparam
Não quero que sejas de mim afastado

Algo nos une e não pode separar
Uma vontade, um minuto ou uma paixão
Penso em você, não posso negar
Evito o que sinto, nada sei do coração

Meus sentimentos guardei muito tempo
Escrever-lhe, então, exigiu-me coragem
Sem você o tempo se arrasta lento

Mas sem palavras, sentimentos não valem



Não me declaro, não ouso o fazer
Estás presente em meu pensamento
Não sei ao certo o que sinto ao te ver
Mas se não te conto, conta-te o tempo

Thaís dê V Lopés

(Primeiro poema. Aos 14 anos)

Paixão inventada

A idéia me assusta...

Apavorada, tento me esconder em um sorriso... Que é, também, a porta para revelar-me criança.

O jeito adulto. Gestos maduros contrastam com ideais próximos... Me encantam...pequena.

A risada é gostosa como de criança. Sinto-me avançar e regredir... Avançar e regredir... Uma dança. Beleza.

A voz me traz conforto. Invento e sonho o calor do abraço. Destino infantil... O de sonhadora.

Invento, não só o sorriso, mas o olhar. Sinto que danças também. Entretenho-me a pensar se dançaríeis comigo...

Encontro-me pequena, presa a cada um de seus sorrisos; vacilante quando olhares se encontram.

Temo apaixonar-me pela paixão inventada. Encantar-me por minha criatividade e compô-lo em reflexões.

Mas... Como teimo em admitir...

Faz-me olhar-te sempre uma segunda vez.

Thaís dê V Lopes

02/10/2008

Passado

Se não me vê,

Por que me olhas?

Não me entendes

E foges a perguntas

Se não me vê,

Por que me olhas?

Vejo teu olhar

No meu, a olhar

O teu olhar, que é meu

Mas que lhe dou

...Dei-lhe...

Sinto que sentes o que sinto

E não deveria...

Revives o passado

Que vivi sozinha

Tuas risadas riem do gozado,

Do vivido, do passado,

Do hoje atrasado

Se não me vê,

Por que me olhas?

Thaís dê V Lopés

01/04/09

Piano

O sono do corpo foi convite à escuridão. Paredes, pensamentos e uma janela. Fim de noite. Mergulhei em meus olhos esquecida de tomar fôlego.

Idéias desalinhadas em risadas e vozes conhecidas. De repente algo mata a repulsa por luz. Concentrei-me numa voz desnorteante...

Sereias, céu, beleza, dança, campo, vestidos, amor, infância, sorriso, emoção. Atração por cenas cortadas, misturadas em um grande painel. Meu corpo dormia. Hesitei em acordá-lo. A voz me mostrou ser música... A música confessou-me cegueira.

E cega eu devia conhecê-la. Olhos carregaram meu corpo pesado da noite. O contraste entre a cegueira e a teimosia deram fim ao delírio.

Thaís di V. Lopes

28/06/09

Cheiro de Mar

Aquela barriga…

Macia, cheirosa

Minha…

Minha lembrança.

Uma rede,

Um sorriso e maresia

Uma praia, alegria

Sem explicação

Mesa pequena...

Longas refeições

Cheiro de mar

Elogios e brinquedos

Risos, apelidos

Escassez de preocupação

Olhar tristonho

Jeito mais velho

Um par de óculos

Conhecidos...

Cores...

Noite comum

Festas, música

Sono de criança...

Colchões na sala

Companhia de irmã

Olhos conhecidos

Acordaram-me

Desfigurados de dor

Sorriam à minha inocência

Os gestos atrapalhados

Consolavam-me sem motivo

Avião...

Correria em passos arrastados

Pensamentos pesados

Transbordando em lágrimas

Nos intervalos que eu os dava

Nas distrações de menina

E na vontade de ignorar

Uma mãe chorosa

Vi uma casa

A que sorrindo

Fez-me chorar

O cheiro enjoativo

Roupas mortas

Calor irritante

Brisa enlutada

Comida salgada

Por lágrimas

De outros.

Perdi sem notar

Chorei sem saber

Olhei sem sorrir

Sorri sem poder

Olhei e não vi

Reconheci sem conhecer...

Aquela barriga...

Macia, cheirosa

Minha...

Minha lembrança

Uma rede,

Um sorriso e maresia

Uma praia, alegria.

Sem explicação

Mesa pequena...

Longas refeições

Cheiro de mar

Elogios e brinquedos

Risos, apelidos

Escassez de preocupação

Olhar tristonho

Jeito mais velho...

Um par de óculos

Conhecidos

Preto e Branco.

Thaís dê V Lopés

17/02/09