domingo, 6 de dezembro de 2009

Deslizes

Talvez tenha sido erro de minha imaginação imatura; madura demais. Não; foi você quem não soube escolher. Assim me livro da culpa. Afinal, já convivia com minha menina há dezesseis anos... Incomparáveis aos quase três séculos que te conheço.

Sei exatamente como defini-lo. Enquanto que minhas definições de mim mesma são resultados de encontros casuais ou esbarrões dos mais doloridos nos espelhos que dançam a meu redor. Dançando incrivelmente melhor do que eu, eles dançam... Não só para mim. Complicado admitir que os poucos passos que dou são tentativas de copiar esses meus “eus”.

Sou o que sou porque sei copiar. Vergonhoso. Não; eles é que me copiam. Triste encontrar reflexos em fragmentos. Nunca um perfeito conjunto do “eu” que desconheço por conhecer tão profundamente.

A mão dança no ar, misteriosa e sozinha. Pousa na curva. A típica. A curva mulher daquela menina. Os olhos despencam a mirar as responsáveis por elevá-la com delicada beleza. A que, ela não sabe, já era sua. Arrisca-se um passo... Os olhos ainda fixos na insegurança.

Seu cabelo anuncia, então, como bandeira da mulher que desperta ao som do tango. Recua firme! Passos largos, fortes e sensuais. A mão já a conduz... Insegurança que, se existir, toda lhe pertence. Está a ser guiada, a passiva. A mulher que desliza.

Os olhos se fecham por um instante, enquanto abre-se um sorriso sincero de alívio e prazer. Quando tornam a abrir, já não são. Já o foram, já se foram. Olhos nos olhos... Desliza... Olhos nos olhos... Confiança... Olhos nos olhos, dentro dos olhos encantados de quem vê.

Eles dançam no olhar e no sorriso um do outro. Não arriscam passo algum no que se pode chamar de desconhecido... O meu pobre conhecido mundo inseguro. Seu lugar de encontro me é desconhecido simplesmente por o ser. Meu mundo, em seus encontros, lhes é desconhecido por pura opção. Compreensível opção; sábia. Trocaria um de meus dias por um dos passos da menina mulher... Um de seus deslizes confiantes.

Choro, pois minhas palavras não são capazes. Choro, choro! Passos rápidos, como goteira. Irritante, notável, aguda. Que aos poucos dá lugar a falso romance. Falso, incrivelmente crível... O mais verdadeiro.

Agora compreendo! A menina que vi arriscar passos com olhos fixos no meu mundo. Essa não. A mulher que escapuliu, que se desprendeu das sandálias. A mulher que desliza. Correu do meu mundo ao abrir os olhos nos olhos daquelas mãos. Incorporou curvas e matou a menina. Essa sim... Nada de falso há de se mostrar. A mulher é verdadeira e loucamente apaixonada pelas notas que a despertam.

Enfim, meus olhos se apaixonam... Por sua imaginação. Essa que criou o que já existia no tão óbvio. Que não se esconde e nunca escondeu. Me apaixono pela paixão que desenho nas sandálias de minha menina.

Thaís dê V Lopés

06/12/08

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