domingo, 6 de dezembro de 2009

A primeira última vez

Mais uma vez, cá estou a esperar que me visite um consolo confortante. Mais uma vez um borrão desarrumado. A boca latejante de teus beijos. A expressão desfigurada de desvalor. As roupas, que tão bem foram escolhidas, a teu encontro, vítimas. Inutilmente arrancadas de meu corpo morto, encontram-se desmaiadas pelos cantos.

Meu coração chora emocionado e medroso. Do verde ao vermelho que nele se espera encontrar. Vermelho, muitas vezes, precocemente projetado. Cor que meu coração covarde rejeitou, agora chora. É vermelho, não mais por opção, por o ser.

O dia amanhece. Já é manhã e, tola, insisto em assuntos mal resolvidos da guerra passada. Guerra que perco inúmeras vezes, sendo a primeira que me causa alívio. Já não tenho mais chance de sair vitoriosa. Perdi o que não soube ter.

O vento já me prevenia a perda, mas entre quatro encorajadoras paredes, cumpria meu dever de tentar uma vez mais. Escapar de minha série pré-determinada de humilhações e faz-de-conta.

Cá estou, imperfeita, perdida no cenário da perfeição. Nino olhos que choram dor. Tenho sorrido a pesadelos; sonhos só me doem. Fostes meu último sonho lindo que morre prematuro. Projetei em ti o vermelho esperado, história construída. Morro no sorriso que te lanço em recuo. Tua lembrança.

Hoje visto meu personagem definitivo. A beleza de minhas paixões e amores apaixonados não se pode concretizar. Paira no ar, flutuando por corações ouvintes que se limitam a um prazer momentâneo. O que sentem, não os causo com nada mais que palavras molhadas de lágrimas salgadas. Os que lêem não levam o que têm em mãos como definição do que sinto, mas resultado de momento vago de inspiração. Julgam apenas atitudes ainda infantis e frágeis.

Sou mais do que capaz de amar. Feita para esse fim. Amar, apaixonando-me por palavras. As minhas. Mas percebo-me em busca eterna...Tenho significado restrito a mim. Condenada! Tatearei muros onde não há passagem.

Thaís dê V Lopés

07/12/08

Um comentário:

  1. Bem denso, não é à toa que ganha tantos prêmios. Não é pelos prêmios, é a admiração pela sua escrita e pela sua pessoa!

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