domingo, 6 de dezembro de 2009

Bolha Azul

Vejo bolhas todos os dias. Acho até que diariamente visito minha cidade dentro de uma delas. O discurso paulistano é típico e convincentemente repetido em cada vazio de novas idéias. Confesso que não me posso excluir desse contexto.

Até que resolvi que dividiria contigo tua bolha. O dividir foi isolar, proteger e blindar-me. Só sentia você, ao som dos tambores estridentes e repetitivos, que agonizavam à normalidade.

Divertíamo-nos com o fogo, até que me fizestes um convite distraído às montanhas. Hesitei, mas você insistiu em provar-me o quanto me divertiria. Distraí-me por um momento com um lindo bosque que avistava ao longe. Dois pequenos morretes entre os quais a solidão era invejável.

Me lembrei de ti. Vi-o correr já distante... O ar era teu único freio. Subia e descia as montanhas, veloz, com ar de vitória e prazer no esforço. Entregava-se vagarosamente ao cansaço, único capaz de lenir-te.

Eu, que de início incomodei-me por me perceber incapaz de contê-lo, distava igualmente de ti, tendo idêntica liberdade. Desatei a correr. Ria em frenesi... O bosque rastejava em minha direção. O ponto mais alto que encontrara... Sentei-me a um dos morretes e puz-me a curtir o movimento da paisagem.

Não mais te avistava, estava só e assustadiça, exatamente como desejei. A neblina me cegava e o calor me derretia num sono profundo. Meus olhos se fecharam como que para não mais abrir.

Sons...Ruídos...Vento...MOVIMENTO! Não estava só! E agora o medo não mais agradava...

Tutum...TuTum...TUTUM! Tornei a ouvir os rígidos tambores, quando involuntariamente, e por culpa tua, sorvia o ar bruta, e não mais lentamente. Não sei ao certo, mas penso que minha única sorte era a cegueira. Senti em teu abraço a pura intenção de proteger-me. Lá ficamos, eu e você... Que a meu pedido descrevia o ambiente ainda cru. Não teria confiado tanto em teus olhos e tuas palavras se meus sentidos não insistissem em confirmá-las a todo instante.

Uma goteira no céu, era o que dizia, uma única goteira no céu. As árvores do bosque em movimento automatizado de episódios tempestuosos. Balançavam na imaginação do vento que as conduzia.

A água da chuva, insistia; da goteira única... Imagina-a fria? Fiz que sim, enquanto entregava-me ao calor inacreditavelmente agradável. Por que não tempestade?

Toquei com a ponta dos dedos teu sorriso, que me anunciou a ilustre imagem da Cachoeira, bela como ela só. Bela, bela, bela... Recusava-se a descrevê-la. Talvez por maldade, mas possivelmente pela dificuldade da tarefa.

Quem já a conhece, posso dizer-lhe agora, revela-se a mais frágil e fácil presa em sua presença. Senti, desesperada, o poder do som da Cachoeira em afrouxar teu abraço. Minha prisão alargava-se...

Ah...Silêncio...Ahhh...SILÊNCIO!

O teu silêncio...Pois a Cachoeira não se calava.

O som impreciso me confundia. Era você que me vinha salvar, ou a Cachoeira engolir? Me salvar...Ou engolir...?

Expulsei uma lágrima dos olhos cegos, que já ouviam tua voz a guiar a maligna. Não ousei levantar-me, pois não cria.

A...Chhh...Ca...Chhh...Chhh...Ahh...choeira...Chhh...Ahhh!

Quente, pesada, lenta, quente, quente... Não posso descrevê-la sem desejá-la. Fiquei imóvel, largada a admirar o sonho das árvores. Um pássaro cruza o céu com lentidão e insegurança. Meu olhar cego o acompanha pelo tato... Como que tomado por descontrole ou determinação, a ave atira-se do alto de um precipício. Meus olhos atrasam-se, imobilizados pela estranheza do ato.

Outro, ou quem sabe o mesmo pássaro cruza meu pedaço de céu. Diverti-me com o poder de prever seu suicídio. Agora é a parte em que ele...Isso! Aguardei o próximo invasor suicida... Que me foi fiel, como todos os outros.

Senti tuas mãos com alívio. Levou-me no colo sem palavra alguma... Não sentíamos falta delas.

“Entregue, sã e salva!”

Eu sorria...

Thaís dê V Lopés

22/11/08

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