Parece-me que me havia arrumado para aquele momento, no qual feliz ou infelizmente a beleza vinha do extraordinário. As roupas coloridas, a sobreposição de camisas fugia a meu gosto, se é que o conhecia na época. Vestia verde e amarelo, cores que me enjoam de tanto não ver. Os longos cabelos, que hoje já não uso, caíam-me sobre os ombros de criança.
É forçoso notar que não fora aquele um momento espontâneo. Conheço bem as mãos que, cuidadosamente, construíram-no. Artistas que podiam prever o sucesso e eternidade da obra.
A franja usava presa como, diziam, era bonito de ver. Jamais o faria.
Não só me lembro, como vejo minha irmã à minha frente. Pequena, de pele e cabelos mais claros que os meus. Não sei ao certo, mas aposto que sorria antes de posar, que se sentia satisfeita com o sorriso que geraria a brincadeira. A verdade é que eu via a brincadeira como favor... Que muito me custava.
Os lábios de minha irmã foram posicionados de forma que se encostassem nos meus. Cerrava com força meus olhos como que para acelerar o momento ou retardar o retorno a ele. A pequena imitava-me por simples impulso costumeiro.
O flash anunciava o fim do sofrimento. Saí a correr, recordo-me bem.
Aquelas mãos entregaram-me a fotografia tempos depois, não por outro motivo, mas por insistência minha. Será que traio meus ancestrais sentimentos? De certo que sim, pois minha reação foi um sorriso. E repulsa alguma sinto hoje...
Prefiro, porém, ignorar o que essa foto realmente representa. Amor inventado, idealizado. Sonho morno, desejo constante.
Amo minha irmã, esqueço a garotinha.
Thaís dê V Lopés (03/03/09)
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